2007-01-24

galB






















[Miklós Barabás, Galambposta, 1843, Magyar Nemzeti Galéria, Budapest]

Textos em três línguas para empurrar uma pessoa com muitas (pelo menos 4):

«Como me sinto inquieta», pensou Clementina, debruçada à janela.
O jardim doirava-se ao sol.
Não sei onde eles estão, o Noël, o Joël ou o Citroën. Podem, entretanto, ter caído ao poço, ou comido alguns frutos envenenados, ou apanhado com alguma seta num olho, se algum outro miúdo anda a brincar no meio da estrada com um arco, ou podem ter sido contaminados pela tuberculose, se algum bacilo de Koch se meteu de permeio, ou terem perdido os sentidos, se cheiraram alguma flor de perfume muito intenso, ou terem sido picados por um escorpião trazido pelo avô de algum garoto da aldeia, algum célebre explorador que tenha chegado há pouco da terra dos escorpiões, ou terem caído de uma árvore abaixo, ou corrido, depressa demais e partido uma perna, ou brincado com a água e afogado, ou descido a falésia e estampado e quebrado a espinha, ou arranhado nalgum arame ferrugento e apanhado o tétano; foram até ao fundo do jardim e viraram uma pedra, debaixo da qual havia uma pequena larva amarela que vai desenvolver-se num abrir e fechar de olhos, e voar em direcção à aldeia, e introduzir-se no estábulo de um touro bravo e picá-lo no focinho; o touro sai do estábulo, deita tudo abaixo, e ei-lo que mete pernas ao caminho, em direcção a esta casa, vem de lá como doido, deixa tufos de pêlo negro em cada curva, presos às moitas de uva-espim; e, mesmo em frente de casa, lança-se de cabeça baixa contra uma pesada carroça puxada por um cavalicoque meio cego. Com o choque, a carroça desmantela-se e um pedaço de metal é projectado no ar a uma altura incrível; possivelmente um parafuso, uma cavilha, uma porca, um prego,
um ferro do varal, um gancho de ligação, um rebite das rodas, que foram carpinteiradas e depois quebradas, e reparadas mediante cinchos de freixo talhados à mão, e esse pedaço de ferro sobe, silvando, em direcção ao azul do céu. Passa por cima do gradeamento do jardim, e oh meu Deus, vai cair, vai cair e, na queda, aflora a asa de uma formiga voadora, arrancando-lha, e a formiga, mal dirigida, perdida a estabilidade, vagueia por sobre as árvores como uma formiga que já não presta, e tomba, de repente, sobre a relva onde, Deus meu, está o Joël, o Noël e o Citroën, a formiga cai em cima da bochecha do Citroën e, deparando, possivelmente, com uns restos de doce, pica-o...
— Citroën! Onde estás tu?
Clementina precipitara-se para fora do quarto e gritava, fora de si, enquanto descia as escadas a galope. No vestíbulo, esbarrou com a criada.
—Onde ó que eles estão? Onde estão os meus filhos?
—Estão a dormir — respondeu a outra, com ar de espanto. — É a hora da sesta.
Pois é, ainda não foi desta; mas era perfeitamente plausível. Voltou para o quarto. Com o coração aos pulos. Não há dúvida de que é um perigo deixá-los ir sozinhos para o jardim.

[em O Arranca Corações, Boris Vian (um copy / paste daqui)]

les parents qui ont leurs propres conflits, leurs querelles, leurs drames, sont pour l'enfant la compagnie la moins souhaitable. Profondément marqués par la vie du foyer paternel, ils abordent leurs propres enfants à travers des complexes et des frustrations: et cette chaîne de misère se perpétuera indéfiniment. En particulier, le sado-masochisme maternel crée chez la fille un sentiment de culpabilité qui se traduira par des conduites sado-masochistes à l'égard de ses enfants, sans fin. Il y a une mauvaise foi extravagante dans la conciliation de mépris que l'on voue aux femmes et du respect dont on entoure les mères. C'est un criminel paradoxe que de refuser à la femme toute activité publique, de lui fermer les carrières masculines, de proclamer en tous domaines son incapacité, et de lui confier l'entreprise la plus délicate, la plus grave aussi qui soit: la formation d un être humain.
[...]
Mais il y a peu de crimes qui entraînent pire punition que cette faute généreuse: se remettre tout entière entre des mains autres. L'amour authentique devrait être fondé sur la reconnaissance réciproque de deux libertés; chacun des amants s'éprouverait alors comme soi-même et comme l'autre; aucun n'abdiquerait sa transcendance, aucun ne se mutilerait; tous deux dévoileraient ensemble dans le monde des valeurs et des fins. Pour l'un et l'autre l'amour serait révélation de soi-même par le don de soi et enrichissement de l'univers.

[em Le Deuxième Sexe, Simone de Beauvoir (um copy / paste daqui)]

Master and slave, also, are united by a reciprocal need, in this case economic, which does not liberate the slave. In the relation of master to slave the master does not make a point of the need that he has for the other; he has in his grasp the power of satisfying this need through his own action; whereas the slave, in his dependent condition, his hope and fear, is quite conscious of the need he has for his master. Even if the need is at bottom equally urgent for both, it always works in favour of the oppressor and against the oppressed. That is why the liberation of the working class, for example, has been slow.

[em The Second Sex, Simone de Beauvoir (um copy / paste daqui)]

E para terminar, a última fala de Próspero para Ariel:

My Ariel, chick,
That is thy charge: then to the elements
Be free, and fare thou well! Please you, draw near.

[em The Tempest, William Shakespeare (um copy / paste daqui)]

1 comentário:

Anónimo disse...

Isto não é um comentário.
Mas já tens aí a resposta:
ver supra.

Anónimo 21.0874