Hatshepsut - a mais nobre das damas
Retrato de huma Dama
por o Padre Eusebio de Matos.
I. Podeis dezafiar com bizarria
Só por só, cara a cara, bella Aurora,
Que a Aurora nem só cara vos faria,
Vendo taõ boa cara em vós, Senhora:
Senhora sois do Sol, e luz do dia,
Do dia, em que nascestes até agora,
Que se a Aurora foy luz por sua estrella,
Duas tendes em vós a qual mais bella.
II.Sey que vos dera o Sol o seu thesouro,
Pelo negro gentil desse cabello,
Taõ bello, q em ser negro foy desdouro
Do Sol, q por ser de ouro foy taõ bello:
Bella sois, e sois rica sem ter ouro,
Sem ouro haveis ao Sol de convencello,
Que se o Sol por ter ouro he celebrado,
Sem ter ouro esse negro he adorado.
por o Padre Eusebio de Matos.
I. Podeis dezafiar com bizarria
Só por só, cara a cara, bella Aurora,
Que a Aurora nem só cara vos faria,
Vendo taõ boa cara em vós, Senhora:
Senhora sois do Sol, e luz do dia,
Do dia, em que nascestes até agora,
Que se a Aurora foy luz por sua estrella,
Duas tendes em vós a qual mais bella.
II.Sey que vos dera o Sol o seu thesouro,
Pelo negro gentil desse cabello,
Taõ bello, q em ser negro foy desdouro
Do Sol, q por ser de ouro foy taõ bello:
Bella sois, e sois rica sem ter ouro,
Sem ouro haveis ao Sol de convencello,
Que se o Sol por ter ouro he celebrado,
Sem ter ouro esse negro he adorado.
De Bernardo Vieira
Pelos mesmos consoantes
Applicando-as a hum Cadaver.
Quem vos mostra mudada a bizarria
Da cara, q a luz dava à bella Aurora
Creyo nenhuma affronta vos faria,
Se a morte contemplara em vós Senhora:
Porque sem luz vereis naquelle dia
A cara, que brilhar vedes agora,
Porque entaõ haveis ter só por estrella
Ver em cinza desfeita a cara bella.
Horror será entaõ esse thesouro,
Que hoje naufraga, em ondas de cabello,
Trocando com mortífero desdouro
Em fealdades quanto tem de bello:
Por mais rico se vence agora o ouro,
Entaõ a terra ha de convencello,
Que quem na vida vive celebrado
Perde na morte as prendas de adorado.
Pelos mesmos consoantes
Applicando-as a hum Cadaver.
Quem vos mostra mudada a bizarria
Da cara, q a luz dava à bella Aurora
Creyo nenhuma affronta vos faria,
Se a morte contemplara em vós Senhora:
Porque sem luz vereis naquelle dia
A cara, que brilhar vedes agora,
Porque entaõ haveis ter só por estrella
Ver em cinza desfeita a cara bella.
Horror será entaõ esse thesouro,
Que hoje naufraga, em ondas de cabello,
Trocando com mortífero desdouro
Em fealdades quanto tem de bello:
Por mais rico se vence agora o ouro,
Entaõ a terra ha de convencello,
Que quem na vida vive celebrado
Perde na morte as prendas de adorado.
Ilustração e mais informações @ -
1 comentário:
"Os dois poemas encontram-se no Postilhão de Apolo, onde são atribuídos, respectivamente, a Eusébio de Matos (retrato positivo) e a Bernardo Vieira (retrato negativo).
Estes poetas têm em comum algumas características biográficas interessantes: poetas menores, são irmãos de personalidades célebres - Eusébio de Matos é irmão de gregório de Matos, Bernardo Vieira é irmão de Padre António Vieira. Ambos nasceram na Baía, onde viveram." [...]
"Sem dúvida alguma, o retrato pintado por Bernardo Vieira baseia-se no poema atribuído a Eusébio de Matos, de que faz uma glosa em negativo, e não é de excluir a possibilidade de que ambos os poemas tenham por base outros modelos semelhantes de outros autores."
Ana Hatherly, "Vanitas e anamorfose barroca. A propósito de um Retrato de Huma Dama", in O Ladrão Cristalino. Aspectos do Imaginário Barroco, pp. 112-113.
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