Aletrisme ou Kantisme?
"A flagrante ausência de cultura filosófica e geral dos alegres propulsores deste modelo de debilidade mental que se chama arte abstracta, abstracção-criação, arte não-figurativa, etc. é uma das coisas mais autenticamente agradáveis do ponto de vista da desolação intelectual e "moderna" da nossa época. Kantistas retardados, pegajosos de secções de ouro escatológicas, continuam a querer oferecer-nos, sobre o optimismo novo do seu papel couché, essa sopa de estética abstracta, a qual em verdade de realidade ainda é pior do que essas espécies de sopas de aletria fria colossalmente sórdidas do neotomismo, das quais até os gatos mais convulsivamente esfomeados não querem aproximar-se. Se, segundo eles, as formas e as cores têm um valor estético em si mesmas, fora do seu valor "representativo" e do seu significado anedótico, como podem resolver e explicar a imagem paranóica clássica, de dupla figuração e simultânea, que pode oferecer sem dificuldade uma imagem estritamente imitativa, ineficaz do seu ponto de vista e, ao mesmo tempo, sem qualquer alteração, uma imagem válida e rica plasticamente? É o caso dessa diminuta figura ultra-anedótica dum negrinho fulgurantem, deitado e de estilo Meissonier, o qual, ao mesmo tempo, olhado verticalmente não é senão a sombra muito rica e mesmo plasticamente suculenta dum nariz pompeiano muito respeitável pelo seu grau de abstracção-criação! A genial experiência de Picasso não faz mais do que provar-lhes, por outro lado, o carácter incondicional material, inelutável e apoteósico, em relação com as precisões físicas e geométricas dos sistemas estéticos, dos sistemas biológicos e frenéticos do objecto concreto."
[Salvador Dali, A conquista do irracional, em: "Mito trágico do Angelus de Millet", trad. Célia Henriques e Vítor Silva Tavares, & etc, Lisboa, 1998]
Ilus: Piet Mondrian, Composição com cinzento e castanho claro (1918), óleo sobre tela, 80,2 X 49,9 cm, Museum of Fine Arts, Houston, Texas.
And now for something completely different: Le Lettrisme.
[Salvador Dali, A conquista do irracional, em: "Mito trágico do Angelus de Millet", trad. Célia Henriques e Vítor Silva Tavares, & etc, Lisboa, 1998]
Ilus: Piet Mondrian, Composição com cinzento e castanho claro (1918), óleo sobre tela, 80,2 X 49,9 cm, Museum of Fine Arts, Houston, Texas.
And now for something completely different: Le Lettrisme.
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